quinta-feira, 29 de março de 2012

Historia de vida

Vital Brazil
 
Médico brasileiro é reconhecido internacionalmente pela pesquisa sobre diversas vacinas e o famoso antídoto para veneno de serpentes, além de fundador do Instituto Butantan.


Vital Brazil

Nascido em 28 de abril de 1865, Vital Brazil Mineiro da Campanha tinha um sobrenome curioso, que evidenciava bem sua origem. Consta em alguns registros históricos que Vital descendia do herói da Inconfidência Mineira, Tiradentes. Mas foi a sua própria atividade revolucionária que o evidenciou perante o País e o mundo: a de médico imunologista e pesquisador, além de fundador do famoso Instituto Butantan, em São Paulo, que pesquisa e produz medicamentos importantes para todo o Brasil. Seus estudos sobre o veneno de cobras e outros animais peçonhentos foram decisivos para achar a cura de seus efeitos, salvando milhares de vidas.
José Manuel dos Santos Pereira Junior batizou Vital e seus irmãos sem dar-lhes o próprio sobrenome, como fica bem claro nos curiosos nomes de alguns deles, tirados dos lugares de origem e outras particularidades bem brasileiras: Maria Gabriela do Vale do Sapucaí, Fileta Camponesa de Caldas e Eunice Peregrina de Caldas. Quanto à grafia com a letra (z) no sobrenome de Vital, o motivo é que o nome de nosso País era mesmo escrito assim até o Acordo Ortográfico de 1943, da Academia Brasileira de Letras (e permanece com z para outros países, por adequação fonética).
Criar sete filhos nunca foi algo fácil, financeiramente falando. Embora com dificuldade, Vital saiu de sua Campanha natal, em Minas Gerais, e conseguiu estudar medicina no Rio de Janeiro, custeando o curso com o que recebia de trabalhos como professor particular, auxiliar de engenheiros e condutor de bondes, formando-se em 1891.

Cobras mortais

Já como médico, clinicou pelo interior de São Paulo no combate a epidemias, quando se casou pela primeira vez e instalou-se em Botucatu. Impressionado com o grande número de pessoas que morriam por causa de picadas de serpentes e outros animais venenosos, resolveu estudar a fundo o assunto.
A convite do governo paulista, começou a trabalhar em 1897 no Instituto Bacteriológico do Estado de São Paulo, então dirigido por Adolfo Lutz. Elaborou extensas pesquisas com colegas como Oswaldo Cruz e Emílio Ribas, principalmente sobre doenças como febre amarela, tifo, varíola e peste bubônica.
Foi encarregado de instalar na Fazenda Butantan, às margens do rio Pinheiros, em São Paulo, o instituto de mesmo nome, onde foram desenvolvidos importantes trabalhos de pesquisa e produção de medicamentos, incluindo o soro antiofídico, antídoto para o veneno de serpentes, produzido com a própria substância letal. Também foram feitas no Butantan (foto abaixo) vacinas como as contra tifo, psitacicose, tétano, varíola, disenteria bacilar e a BCG (contra tuberculose, doença contagiosa que ainda matava muita gente até o início do século passado). O médico criou uma caixa de madeira, distribuída a lavradores, para que depositassem nelas as cobras que capturassem nas lavouras. Mediante um acordo com as companhias ferroviárias, os animais eram transportados até São Paulo, usados nas pesquisas e na produção de soro. Também eram fabricados os antídotos para picadas de aranha, escorpião e os soros antitetânico e antidiftérico.   


Instituto Butantan
A criação do soro antiofídico específico para cada espécie de cobra, bem como a de um polivalente, usados até hoje, permitiu que milhares de vidas fossem salvas.
Mas o médico também atacava em outras frentes: fundou uma das primeiras escolas brasileiras que alfabetizavam crianças de dia e adultos à noite, além de desenvolver materiais informativos para a prevenção aos ataques de animais peçonhentos, com linguagem de fácil compreensão para uma população rural de pouca instrução.


Volta ao Rio

Sua participação em um congresso científico nos Estados Unidos em 1915 tornou seu trabalho conhecido na América do Norte e na Europa, rendendo-lhe reconhecimento mundial. Após deixar a direção do Butantan, em 1919, Vital Brazil foi para o Rio de Janeiro. Embora tivesse sido convidado pelo colega Carlos Chagas para trabalhar na que um dia seria a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), resolveu fundar um novo laboratório em Niterói, o Instituto Vital Brazil S.A. (Centro de Pesquisas, Ensino, Desenvolvimento e Produção de Imunobiológicos, Medicamentos, Insumos e Tecnologia para Saúde), que até hoje atende o setor público com a produção de aproximadamente 50 medicamentos, soro antiofídico e realiza estudos de cunho econômico-social. O prédio, projetado pelo filho do médico, Álvaro Vital Brazil (contemporâneo de Lúcio Costa, Burle Marx e Oscar Niemeyer, entre outros), é uma joia da arquitetura moderna brasileira. O bairro em que o complexo foi construído foi, mais tarde, batizado como Vital Brazil. Cientistas brasileiros e estrangeiros entre os mais importantes iniciaram e iniciam sua carreira estagiando neste instituto.



Em seu primeiro casamento (1892), com Maria da Conceição Philipina de Magalhães, teve 12 filhos (dos quais nove chegaram à idade adulta). Viúvo em 1913 casou-se pela segunda vez em 1920 com Dinah Carneiro Vianna, com quem teve mais nove filhos.  Entre eles, vários foram notórios em atividades como medicina, arquitetura (o citado Álvaro), música e docência, entre outras.
Vital Brazil dizia sempre que achava que morreria cedo. Redigiu seu testamento quando tinha 40 anos, convencido de que não duraria muito. Faleceu aos 85 anos, em 1950, em Niterói, homenageado por governos e colegas de várias partes do mundo. 


                                        

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