Vital Brazil
Médico brasileiro é reconhecido
internacionalmente pela pesquisa sobre diversas vacinas e o famoso antídoto
para veneno de serpentes, além de fundador do Instituto Butantan.
Vital Brazil |
Nascido
em 28 de abril de 1865, Vital Brazil Mineiro da Campanha tinha um sobrenome
curioso, que evidenciava bem sua origem. Consta em alguns registros históricos
que Vital descendia do herói da Inconfidência Mineira, Tiradentes. Mas foi a
sua própria atividade revolucionária que o evidenciou perante o País e o mundo:
a de médico imunologista e pesquisador, além de fundador do famoso Instituto
Butantan, em São Paulo, que pesquisa e produz medicamentos importantes para
todo o Brasil. Seus estudos sobre o veneno de cobras e outros animais
peçonhentos foram decisivos para achar a cura de seus efeitos, salvando
milhares de vidas.
José Manuel dos Santos Pereira Junior batizou Vital e
seus irmãos sem dar-lhes o próprio sobrenome, como fica bem claro nos curiosos
nomes de alguns deles, tirados dos lugares de origem e outras particularidades
bem brasileiras: Maria Gabriela do Vale do Sapucaí, Fileta Camponesa de Caldas
e Eunice Peregrina de Caldas. Quanto à grafia com a letra (z) no sobrenome de
Vital, o motivo é que o nome de nosso País era mesmo escrito assim até o Acordo
Ortográfico de 1943, da Academia Brasileira de Letras (e permanece com z para
outros países, por adequação fonética).
Criar sete filhos nunca foi algo fácil, financeiramente
falando. Embora com dificuldade, Vital saiu de sua Campanha natal, em Minas
Gerais, e conseguiu estudar medicina no Rio de Janeiro, custeando o curso com o
que recebia de trabalhos como professor particular, auxiliar de engenheiros e
condutor de bondes, formando-se em 1891.
Cobras mortais
Já como médico, clinicou pelo interior de São Paulo no
combate a epidemias, quando se casou pela primeira vez e instalou-se em
Botucatu. Impressionado com o grande número de pessoas que morriam por causa de
picadas de serpentes e outros animais venenosos, resolveu estudar a fundo o
assunto.
A convite do governo paulista, começou a trabalhar em
1897 no Instituto Bacteriológico do Estado de São Paulo, então dirigido por
Adolfo Lutz. Elaborou extensas pesquisas com colegas como Oswaldo Cruz e Emílio
Ribas, principalmente sobre doenças como febre amarela, tifo, varíola e peste
bubônica.
Foi encarregado de instalar na Fazenda Butantan,
às margens do rio Pinheiros, em São Paulo, o instituto de mesmo nome, onde
foram desenvolvidos importantes trabalhos de pesquisa e produção de
medicamentos, incluindo o soro antiofídico, antídoto para o veneno de
serpentes, produzido com a própria substância letal. Também foram feitas no
Butantan (foto abaixo)
vacinas como as contra tifo, psitacicose, tétano, varíola, disenteria bacilar e
a BCG (contra tuberculose, doença contagiosa que ainda matava muita gente até o
início do século passado). O médico criou uma caixa de madeira, distribuída a
lavradores, para que depositassem nelas as cobras que capturassem nas lavouras.
Mediante um acordo com as companhias ferroviárias, os animais eram
transportados até São Paulo, usados nas pesquisas e na produção de soro. Também
eram fabricados os antídotos para picadas de aranha, escorpião e os soros
antitetânico e antidiftérico.
Instituto Butantan |
A
criação do soro antiofídico específico para cada espécie de cobra, bem como a
de um polivalente, usados até hoje, permitiu que milhares de vidas fossem
salvas.
Mas o médico também atacava em outras frentes: fundou uma
das primeiras escolas brasileiras que alfabetizavam crianças de dia e adultos à
noite, além de desenvolver materiais informativos para a prevenção aos ataques
de animais peçonhentos, com linguagem de fácil compreensão para uma população
rural de pouca instrução.
Volta ao Rio
Sua participação
em um congresso científico nos Estados Unidos em 1915 tornou seu trabalho
conhecido na América do Norte e na Europa, rendendo-lhe reconhecimento mundial.
Após deixar a direção do Butantan, em 1919, Vital Brazil foi para o Rio de
Janeiro. Embora tivesse sido convidado pelo colega Carlos Chagas para trabalhar
na que um dia seria a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), resolveu fundar
um novo laboratório em Niterói, o Instituto Vital Brazil S.A. (Centro de
Pesquisas, Ensino, Desenvolvimento e Produção de Imunobiológicos, Medicamentos,
Insumos e Tecnologia para Saúde), que até hoje atende o setor público com a
produção de aproximadamente 50 medicamentos, soro antiofídico e realiza estudos
de cunho econômico-social. O prédio, projetado pelo filho do médico, Álvaro
Vital Brazil (contemporâneo de Lúcio Costa, Burle Marx e Oscar Niemeyer, entre
outros), é uma joia da arquitetura moderna brasileira. O bairro em que o
complexo foi construído foi, mais tarde, batizado como Vital Brazil. Cientistas
brasileiros e estrangeiros entre os mais importantes iniciaram e iniciam sua
carreira estagiando neste instituto.
Em seu primeiro
casamento (1892), com Maria da Conceição Philipina de Magalhães, teve 12 filhos
(dos quais nove chegaram à idade adulta). Viúvo em 1913 casou-se pela segunda
vez em 1920 com Dinah Carneiro Vianna, com quem teve mais nove filhos.
Entre eles, vários foram notórios em atividades como medicina, arquitetura (o
citado Álvaro), música e docência, entre outras.
Vital Brazil
dizia sempre que achava que morreria cedo. Redigiu seu testamento quando tinha
40 anos, convencido de que não duraria muito. Faleceu aos 85 anos, em 1950, em
Niterói, homenageado por governos e colegas de várias partes do mundo.
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